Quatro premiês em um ano: o que está acontecendo na França?
Primeiro-ministro Sébastian Lecornu renuncia ao cargo em menos de um mês Não havia passado nem 24 horas desde que o governo da França anunciou seu gabinete ...

Primeiro-ministro Sébastian Lecornu renuncia ao cargo em menos de um mês Não havia passado nem 24 horas desde que o governo da França anunciou seu gabinete de ministros quando o agora ex-primeiro-ministro francês Sébastian Lecornu apresentou sua renúncia. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Lecornu renunciou nesta segunda-feira (6), tornando-se o quarto premiê da França a deixar o cargo em um ano. Ele decidiu deixar o cargo após perder o apoio do partido conservador Republicanos, um dos únicos que o sustentava na Assembleia Nacional, equivalente à Câmara dos Deputados na França. O partido o retaliou após o premiê se negar a atender a uma reivindicação da sigla —nomear um ministro da Defesa conservador. A saída de Sébastian Lecornu foi ainda mais crítica que a de seus antecessores: ele deixa o poder menos de um mês depois de ser nomeado ao cargo pelo presidente francês, Emmanuel Macron, cuja vida política ficou mais complicada com a nova baixa. Segunda maior economia da União Europeia, a França, após anos de estabilidade financeira e política, vem sendo há meses apontada como o próximo grande problema do bloco. O cerne da crise são as constantes propostas de orçamento de Macron, com cortes drásticos e ajustados para fazer frente ao alto endividamento do país. Atualmente, a França é um dos países mais endividados da União Europeia, ao lado da Itália. A rejeição da população aos cortes de Macron criou também uma crise de popularidade sem precedentes para o presidente francês, o que se refletiu nas urnas em abril de 2024, quando foi renovado o Parlamento Europeu. A sigla de Macron sofreu uma dura derrota para a extrema direita na ocasião. Como reação, o presidente francês convocou eleições legislativas antecipadas — na França , presidente e primeiro-ministro governam em conjunto, mas não precisam, necessariamente, ser aliados, já que cada cargo é eleito em pleitos diferentes. Novamente, o partido centrista de Macron encolheu. A extrema direita, de Marine Le Pen, liderou o 1º turno, mas acabou também derrotada para o bloco da esquerda, que conquistou uma surpreendente vitória no 2º turno. Ainda assim, ninguém obteve maioria necessária para formar governo, e Macron acabou optando por nomear seu próprio primeiro-ministro. Na França, o presidente é o chefe de Estado e tem a prerrogativa de poder escolher um primeiro-ministro, ignorando os resultados das urnas. O presidente escolheu o direitista e pragmático Michel Barnier, que substituiu o jovem Gabriel Attal, então aliado de Macron e que deixou o cargo em setembro de 2024. Mas o plano de Macron falhou, e Barnier caiu apenas três meses depois, derrotado por um voto de desconfiança. 👉 O voto de desconfiança é um mecanismo de governos parlamentaristas através do qual deputados podem votar se o primeiro-ministro segue ou não apto a ocupar o cargo. Acuado, Macron dobrou a aposta e voltou a nomear um premiê ignorando os resultados do pleito: ele escolheu, desta vez, o centrista François Bayrou, veterano na política europeia. Mas a experiência não adiantou, e Bayrou renunciou após nove meses de gestão por também perder voto de confiança no Parlamento. Para evitar voltar às urnas e sofrer uma nova derrota política, o presidente francês escolheu então, em 9 de setembro, o ex-ministro da Defesa Sébastien Lecornu, que acabou pressionando politicamente. Lecornu foi o quinto premiê do segundo mandato de Macron, que começou em 2022. Agora, Macron pediu mais tempo a Lecornu enquanto decide cede à pressão e convoca novas eleições. “Não há outra solução. A única atitude sensata nessas circunstâncias é retornar às urnas", disse a líder da extrema direita, Marine Le Pen, que também pediu a renúncia de Macron. "Chegamos ao fim do caminho", afirmou. O presidente francês tem mandato para governar até 2027, mas uma derrota em novas eleições legislativas podem tornar seu governo ainda mais inviável e forçar uma renúncia. O líder partido de extrema esquerda França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, disse que solicitará ao Parlamento francês o voto de uma moção de impeachment de Macron. Crise na França pode se alastrar e impactar União Europeia? Renúncia de Lecornu O primeiro-ministro da França, Sébastian Lecornu, renunciou nesta segunda-feira (6) após menos de um mês no cargo. Lecornu apresentou uma carta de demissão poucas horas após o gabinete de Macron ter anunciado uma nova composição de governo, com uma reformulação de ministros para trabalharem sob Lecornu. O primeiro-ministro francês Sébastien Lecornu, que apresentou sua renúncia ao presidente francês esta manhã, faz uma declaração no Hotel Matignon em Paris, em 6 de outubro de 2025. Reuters/Stephane Mahe/Pool Lecornu, de 39 anos, foi o ministro da Defesa mais jovem da história francesa e idealizador de um grande reforço militar até 2030, impulsionado pela guerra da Rússia na Ucrânia. Ex-conservador que se juntou ao movimento centrista de Macron em 2017, Lecornu ocupou cargos em governos locais, territórios ultramarinos e durante o "grande debate" dos coletes amarelos de Macron, onde ajudou a controlar a revolta popular por meio do diálogo.